sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Os interesses da vida devem prevalecer sobre o corporativismo

Portugal engessou o desenvolvimento das profissões da saúde dando aos médicos a exclusividade de fazer diagnóstico e prescrição terapêutica das doenças. Hoje importa os serviços dos profissionais do Brasil. Isso porque o Brasil adotou o modelo dos países desenvolvidos, evitando regulamentar as profissões. E as regulamentadas tiveram legislação genérica, permitindo que a meritocracia prevalecesse nas equipes multidisciplinares. Assim nasceram as 13 profissões da saúde (Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Terapia Ocupacional e Técnicos de Radiologia), com 3 milhões de profissionais, entre eles 340 mil médicos.
Na contramão da história, a Câmara acaba de aprovar o projeto de lei do ato médico (PL 7.703), dando aos médicos o direito exclusivo de realizar diagnóstico da doença e prescrição terapêutica. Para adquirir as habilidades e competências das 13 profissões da saúde, eles precisariam estudar, no mínimo, mais 50 anos. Como admitir que os médicos atuem em áreas que não têm treinamento? Como aceitar um regramento que pode impedir a população de ter livre acesso aos serviços de saúde?
Os 80 médicos deputados que lideraram a aprovação do projeto agiram como corporativistas, em detrimento dos interesses do eleitor. Nos serviços de saúde do Brasil imperam o respeito pelas virtudes que cada profissional agrega à vida. Esse projeto irá apenas espalhar a cisão entre eles.
O Sistema Único de Saúde paga anualmente um bilhão de consultas médicas, que geram meio bilhão de exames e um custo bilionário de medicamentos. Apesar disso, há 50 milhões de doentes crônicos e o brasileiro vive uma década a menos do que poderia. Claro está que o sistema de saúde perdeu a capacidade de fazer diagnósticos clínicos e de apresentar resultados aceitáveis.
A maioria dos profissionais continua desempregada. Os que encontram trabalho ganham menos de 7 reais por tratamento. Assim, os altos custos da saúde são creditados à manutenção da máquina burocrática e à indústria dos exames e do medicamento.
Para mudar essa realidade, o Estado precisa colocar os profissionais da saúde a serviço da vida. Três em cada quatro brasileiros recorrem ao poder público para ter acesso a serviços de saúde. No lugar de uma consulta médica de no máximo 5 minutos, os profissionais da saúde, junto com os médicos, podem oferecer um diagnóstico completo e um tratamento que gera resultados.
Gil Lúcio Almeida é presidente do Conselho de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Estado de São Paulo e autor do livro O Engraxate que virou PhD.

Nenhum comentário:

Postar um comentário