terça-feira, 8 de setembro de 2009

O MINISTÉRIO DA SAÚDE A SERVIÇO DA DOENÇA

O site http://www.portaltransparencia.gov.br revela que em 2008 o Governo Federal arrecadou em impostos 1,134 trilhões de reais. Deste total, R$ 50,5 bilhões foram gastos em saúde, ou seja, 4,45%. Por outro lado, em boa parte dos países, os governos centrais gastam em média 15% do que arrecadam com a saúde da população.

Dos R$ 50,5 bilhões aplicados pelo Governo Federal em saúde no Brasil, R$ 35,2 bilhões foram transferidos aos estados e municípios e R$ 15,3 bilhões gastos diretamente pelo Ministério da Saúde. Dos R$ 35,2 bilhões, R$ 27,8 bilhões (80%) foram gastos com procedimentos de média e alta complexidade, sobrando R$ 7,4 bilhões (10 centavos por dia por habitante) para a prevenção de doenças e a promoção da saúde.

O Ministério da Saúde informa que em 2008 o Governo Federal realizou 1.034.992.116 consultas, a um custo de R$ 2,5 bilhões. Essas consultas geram 573.917.793 exames a um custo de R$ 3,6 bilhões e mais R$ 5,4 bilhões são gastos em medicamentos. Como 25% da população possui planos de saúde, portanto não é atendida pelo SUS, o dinheiro do Ministério da Saúde estaria sendo usado para atender 144 milhões de brasileiros. Em outras palavras, o Governo gasta mais com exames e medicamentos do que com o pagamento dos profissionais da saúde.

Os resultados obtidos com os mais de meio bilhão de exames ao ano são mantidos a sete chaves. Não querem revelar à população que a maioria absoluta desses exames são negativos, o que comprovaria a incapacidade do SUS em fazer exames clínicos e evitar a instalação de disfunções e doenças.

Como explicar que, apesar dessa enorme cobertura em termos de consultas e de sermos uma população jovem, temos 50 milhões de portadores de doenças crônicas e ainda vivemos uma década a menos do que poderíamos? Os dados acima demonstra que o Governo Lula alimenta a indústria da doença, no lugar de promover a saúde e o bem-estar.

Na prevenção da doença, representada principalmente pelo Programa de Saúde da Família, o Governo emprega 29 mil equipes, formadas por médicos, enfermeiros e agentes comunitários, a um custo de R$ 2,3 bilhões em 2008. Em tese, essas equipes atenderiam 90 milhões de habitante. Assim, os alarmantes aumentos nos gastos com saúde não podem ser atribuídos aos salários dos profissionais. Apenas para citar um exemplo, um fisioterapeuta recebe menos de 6 reais por um atendimento.

Precisamos dar uma virada na administração da saúde, colocando fim à indústria da doença. Um bom começo seria o Congresso Nacional obrigar todos os prestadores de serviços de saúde a divulgarem os resultados dos exames e dos medicamentos vendidos ao poder público. Fica também mais barato se o Ministério da Saúde contratar os profissionais da saúde, colocando suas virtudes a serviço da vida da população. Essas duas medidas ajudariam a reduzir os custos com saúde e a prolongar e melhorar a qualidade de vida da população.

Hoje o governo gasta muito menos com saúde em proporção às riquezas produzidas pelo país e é preciso resolver este problema. Porém, antes de criar novos impostos, como a Contribuição Social para a Saúde (CSS), antiga CPMF, para financiar a saúde, é preciso melhorar a resolutividade dos recursos investidos.

Prof. Dr. Gil Lúcio Almeida
Autor do livro O Engraxate que virou PhD
www.gillucio.com

terça-feira, 1 de setembro de 2009

É preciso preservar a autonomia dos profissionais da saúde e disponibilizar seus serviços à população

Algumas lideranças médicas tentam, há anos, restringir a autonomia dos profissionais da saúde. O projeto, que ficou conhecido como ATO MÉDICO (PL n. 7703/06 - clique aqui), acaba de ser aprovado na Comissão de Trabalho de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados Federais, dando aos médicos a exclusividade do diagnóstico e da prescrição dos tratamentos.

O projeto aprovado está melhor do que a versão original do Senado, na medida em que foram estabelecidos, também, alguns atos privativos de outras profissões da saúde. Esse projeto ainda será discutido em outras comissões antes de ser votado no Plenário da Câmara e retornar ao Senado.

Desde 2004, o Crefito-SP defende que a população tem o direito ao livre acesso aos profissionais da saúde, sem que tenham de passar necessariamente por uma consulta e prescrição médica. Ao dar aos médicos a prerrogativa exclusiva do diagnóstico nosológico (doenças) e da prescrição terapêutica (tratamento), o PL 7703/06 retrocede ao passado e acaba com a autonomia dos profissionais da saúde. Para atender seus pacientes e clientes, os profissionais da saúde precisariam esperar o encaminhamento de um médico com o diagnóstico da doença e a receita do atendimento que eles deveriam executar.

Em outras palavras, na forma como está, este projeto os transformaria em técnicos dos médicos. O ESTADO não pode admitir que um profissional da saúde socorra a vida, sem ao menos saber quais são os principais sinais e sintomas (diagnóstico da doença) que acometem a vida do paciente. Para preservar os interesses da vida, o ESTADO deve manter a autonomia dos profissionais da saúde, mas cobrar deles um atendimento de qualidade, punindo rigorosamente, civil e criminalmente, a má prática de seus atos privativos.

Como admitir que os médicos façam a prescrição terapêutica em áreas do conhecimento (i.e., Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Enfermagem, Nutrição, Educação Física, Serviço Social, Psicologia, Farmácia, Odontologia, Biomedicina) em que eles nunca tiveram qualquer tipo de treinamento? A maioria dos pacientes (75%) é portadora de doenças crônicas. As principais doenças possuem causas multifatoriais. Cada profissional da saúde é treinado para diagnosticar e tratar aspectos específicos dessas doenças. Assim, o correto seria o ESTADO promover a autonomia desses profissionais, colocando as habilidades e competências de cada um a serviço da vida saudável.

No entanto, o Ministério da Saúde tem apoiado o referido Projeto de Lei sob o argumento de que este é bom para o SUS. Acredito que o objetivo não declarado do Governo é usar os médicos para fazer uma triagem, dificultando e evitando a obrigação da oferta dos serviços dos profissionais da saúde à população. Afinal, a Constituição Federal e outras leis estabelecem que saúde é direito de todos e dever do ESTADO. É exatamente por causa desse direito que a Justiça tem obrigado o Governo Federal a gastar mais de meio bilhão de reais por ano ofertando serviços de saúde para o contribuinte. Essa conta tende a aumentar, à medida que a população descobre que se recorrer ao Ministério Público, pode obrigar o ESTADO a ofertar os serviços de saúde.

Vejamos a realidade da saúde no Brasil apresentada pelo próprio Ministério da Saúde. Em 2008, o Governo Federal realizou 1.034.992.116 consultas, a um custo de R$ 2,5 bilhões (R$ 2,4 reais em média cada). Essas consultas geraram 573.917.793 exames (R$ 6,3 reais em média cada). Foi uma média de 5,4 consultas por brasileiro, a um custo total ao Governo de 5,4 bilhões, apenas em medicamentos. Como explicar que apesar dessa enorme cobertura e de sermos uma população jovem, temos 50 milhões de portadores de doenças crônicas e ainda vivemos uma década a menos do que poderíamos? Os dados do Governo Federal demonstram como funciona e opera a indústria da doença no Brasil.

Na prevenção da doença, representada principalmente pelo Programa de Saúde da Família, o Governo emprega 30 mil equipes (médico, enfermeiro e agente comunitário) a um custo de R$ 2,3 bilhões, em 2008. Em tese, essas equipes atenderiam 90 milhões de habitantes. Por outro lado, o gasto do Governo Federal com o pagamento de atendimentos prestados pelos profissionais da saúde é ínfimo. Apenas para citar um exemplo, um fisioterapeuta e terapeuta ocupacional recebem menos de R$ 6 reais por um atendimento. Portanto, não é a oferta e a remuneração dos profissionais da saúde que oneram os gastos do Governo nessa área.

Por trás do movimento do Ato Médico também estão os principais planos de saúde, os quais possuem representantes no Congresso Nacional, instalados nas principais Comissões que decidem o futuro dos projetos de lei. Esses planos de saúde acreditam que a oferta dos serviços dos profissionais da saúde poderia aumentar seus custos. Mantêm os profissionais da saúde trabalhando em contratos leoninos, sem reajuste há mais de 15 anos. Porém, não percebem que eles também são vítimas dos crescentes custos da indústria do diagnóstico e farmacêutica.

Acredito que a maioria absoluta dos médicos não concorda com o movimento corporativista e míope de parte de suas lideranças que tentam subjugar os profissionais da saúde. Os médicos sempre fizeram diagnóstico médico e prescrição médica muito bem. Foi graças ao exercício talentoso dessas habilidades e competências que eles lograram o respeito e admiração de todos, inclusive dos demais profissionais da saúde.

Para fazermos a virada na saúde, precisamos da união de todos os profissionais da saúde com a população. Essa mudança passa pela eleição de presidente, governadores, senadores e deputados federais em 2010 comprometidos com os interesses da vida saudável da população. Com um Congresso forte e vigilante dos interesses da sociedade poderemos impedir que projetos de lei, como o PL 7703/06, que fazem mal à saúde da população e aos interesses dos profissionais da saúde se transformem em leis.

Com um poder Executivo sensível aos interesses da saúde dos brasileiros, poderemos implementar uma revolução na administração pública, colocando os impostos do contribuinte a serviço da vida.



Prof. Dr. Gil Lúcio Almeida
Presidente do Crefito-SP e autor do livro O Engraxate que virou PhD.